Sardes: A Cidade que Dormia de Olhos Abertos

 Sardes é lembrada principalmente por seu papel como uma das sete igrejas mencionadas no livro do Apocalipse. Mas entender a igreja de Sardes exige olhar para a cidade em que ela existia — uma cidade que já foi grandiosa, mas que viveu aprisionada em sua própria fama.




Um Passado de Glória e um Presente de Ilusão

No século VII a.C., Sardes era a capital da Lídia. Sob o reinado do famoso rei Creso, foi considerada uma das cidades mais esplêndidas do mundo antigo. Localizada no alto de uma colina e protegida por muralhas e penhascos íngremes, parecia inexpugnável. Seus habitantes confiavam tanto em sua posição estratégica que acabaram negligenciando a vigilância. Isso custou caro: primeiro, foi tomada por Ciro da Pérsia (529 a.C.); depois, por Antíoco Epifânio (218 a.C.), sempre pela mesma razão — excesso de confiança.

Durante o período de Alexandre, Sardes foi reconstruída e se tornou um centro religioso dedicado à deusa Cibele (ou Ártemis). Mais tarde, em 17 d.C., um terremoto abalou a cidade, que foi restaurada com apoio do imperador Tibério. Na época da carta de João, Sardes era rica, mas decadente — entregue à imoralidade, ao prazer e à indiferença espiritual.

Além de sua importância histórica e religiosa, Sardes era também um centro industrial conhecido por sua produção de lã e tinturaria, e uma rota comercial relevante dentro do Império Romano.

A Igreja que Tinha Fama, mas Não Vida

A igreja de Sardes carregava uma reputação de vitalidade, mas estava espiritualmente morta. A aparência enganava. Por isso, Jesus se apresenta a ela como aquele que tem os sete Espíritos de Deus — a plenitude do Espírito Santo —, único capaz de trazer vida ao que está morto.

A exortação de Jesus é direta: “Sê vigilante… senão virei como ladrão” (Ap 3:3). A cidade entendia bem essa advertência. Duas vezes foi invadida por descuido. A mensagem era clara: a autoconfiança era uma armadilha.

Ainda assim, nem tudo estava perdido. Havia um pequeno grupo que não havia se contaminado. Viviam em meio à indiferença, mas permaneciam fiéis. A maioria, no entanto, havia se adaptado ao ambiente pagão, mantendo boas obras externas, mas corações vazios. Jesus os chama a acordar, a fortalecer o pouco que restava antes que morresse de vez.

Um Detalhe Simbólico

Curiosamente, o “sardônio” — uma pedra preciosa avermelhada usada nos fundamentos da Nova Jerusalém (Ap 21:19) — leva o nome de Sardes. Talvez uma lembrança visual de que, mesmo em lugares onde tudo parece perdido, ainda há algo que pode brilhar.

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